quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Ministra Presidente do STF discursa durante Suprema Congregação da Federação 2007





Surpreendeu-me agradavelmente a homenagem que me presta o Grande Oriente do Brasil, homenagem que recolho e interpreto como endereçada ao Supremo Tribunal Federal e a todos os seus integrantes ne passado e no presente.
Comove-me particularmente pelo fato de que meu avô paterno, patriarca irrepreensível que legou princípios de absoluta correção ética a uma numerosa descendência, era maçom. Participar desta cerimônia corresponde, por isso, além do convívio agradável com os integrantes desta Grande Loja, a oportunidade de homenagear-lhe a memória.
Mas devo confessar-lhes que tinha para com a maçonaria uma antiga desconfiança e um quase desgosto, em razão do fato de seus círculos repelirem as mulheres. Fui, portanto, com satisfação, cativada pela mudança de parâmetros que o gesto dos integrantes da fraternidade representa. A maçonaris, como sociedade em geral, verifico, está em vias de superar as idéias excludentes que privaram metade da população de participar mais ativamente da condução dos destinos nacionais.
São essas as motivações pessoais. Outras há, e muito elevadas, para que seja grande meu regozijo em participar desta solenidade.
No Brasil, a história da maçonaria se confunde com a história das lutas pelos melhores ideais, como a causa da independência e a campanha abolicionista.
Não só a independência, mas algumas das mais nobres campanhas pelo progresso deste país e sua inserção no concerto das nações civilizadas e democráticas. Assim, foi do maçom Joaquim Nabuco a iniciativa da criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão; foi o Ministério Liberal, presidido pelo Maçom José Antônio saraiva, que conseguiu a aprovação da Lei dos Sexagenários. Entre os abolicionistas fervorosos contam-se Rui Barbosa, José do Patrocínio e Castro Alves, todos maçons. Aliás foi de Rui a iniciativa pela qual todos os maçons brasileiros libertaram seus escravos, três anos antes da Lei do Ventre Livre.
Lojas maçônicas se fundaram no Brasil a partir de 1802, sendo Manuel de Arruda Câmara, médico e um dos mais notáveis botânicos do século XVIII, o iniciador do movimento. As idéias que trazia de sua temporada de estudos em Montpellier influenciaram a revolução de 1817. O ideário maçônico do Brasil e a ação de seus integrantes assumiu cunho liberal e nacionalista, ainda que presentes as duas vertentes da instituição. Uma vez obtida a independência, com a manutenção do regime monárquico, ambas as correntes maçônicas se reconciliaram, passando a ser dirigidas pelo mesmo arconte, o próprio Imperador Pedro I.
No Brasil - quem afirma é Carlos Delgado de Carvalho - a Maçonaria não era nem uma luta de classes, nem um movimento anti-religioso, características que existiram em certa medida na Europa e que teriam influenciado os movimentos revolucionários que culminaram na perda pela Santa Sé do domínio sobre parcela considerável do teritório italiano, reduzindo-se o poder temporal da Igreja Católica à cidade do Vaticano. Foram esses fatos que levaram à condenação das sociedades secretas pelo Sylabus papal de 1864.
Enquanto isso, no Brasil, as lojas eram repletas de religiosos de todas as ordens, No entanto, alguns sacerdotes brasileiros que fizeram sua transformação na Itália sofreram a influência da conjuntura que lá se vivia e trouxeram no seu retorno uma atitude de intolerância com a qual acabaram por desencadear a equivocada "questão dos bispos", em que até mesmo o Supremo Tribunal se manifestou, para condenar os religiosos.
Curioso é notar que a enorme controvérsia surge de um episódio merecedor dos maiores elogios. As lojas maçônicas do Rio de Janeiro celebravam a edição da Lei do Ventre Livre, para o que - veja-se a ironia - fizeram rezar uma missa. O padre oficiante, foi censurado pelo Bispo D. Pedro Maria de Lacerda, mas recusou-se a abjurar a maçonaria. Este caso não teve maiores consequências. no entanto, a querela ressurgiu no ano seguinte (1873) com o jovem bispo de Olinda, D. Vital G. de Oliveira que suspendeu os membros católicos de uma irmandade. No que foi seguido pelo bispo de Belém, D. Antônio Macedo Costa. As irmandades suspensas apelaram para o Governo que remeteu a questão ao Conselho de Estado.
É bom lembrar que à época Igreja e Estado não eram separados, como hoje, e o Imperador Pedro II, que não era maçom, como seu pai, defendia intrasigentemente suas prerrogativas de governante, dentre as quais a de arbitrar questões religiosas. O Conselho de Estado anulou as interdições e os bispos recusaram-se a acatar a decisão pelo que foram acusados perante o Supremo Tribunal de Justiça e condenados a quatro anos com trabalhos.
O Imperador no exercício do Poder Moderador, comutou a oena de trabalhos forçados. O episódio, no entanto, produziu profundas e prolongadas cicatrizes que ao longo do tempo estigmatizaram a maçonaria no seio da sociedade brasileira, profundamente religiosa.
Sinto-me profundamente agradecida aos irmãos que regidos pelos princípios de "Ciência, Justiça e Trabalho" me conferem tão significativa distinção. Comungo com eles dado que a Ciência é o caminho para esclarescer os espíritos e elevá-los, a Justiça é absolutamente necessária para equilibrar e enaltecer as relações humanas e é por meio do Trabalho que o ser humeno se dignifica e se torna independente.
Meu poeta favorito, Fernando Pessoa, afirmou em trecho de sua obra que: "A maçonaria é vida, mais do que uma sociedade ou uma Ordem. O objetivo final que se pretende atingir é a sabedoria e não um Grau. Entendido pela intuição, a inteligência da emoção, o significado dos símbolos ritualmente recibidos, o adepto transforma-se em filósofo."
É este amor pela sabedoria, base do pensamento maçônico, que se deve louvar. Somente o ser humano, porque consciente de suas limitações, pode almejar o próprio aperfeiçoamento e atuar decididamente neste sentido. E, assim como o faz individualmente, também no plano coletivo, pode agir pelo aperfeiçoamento das instituições. Esta, como a história revela, tem sido a trajetória em nosso país.
Fonte: Assessoria de Comunicação do GOB

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