terça-feira, 21 de agosto de 2007

O terno executivo: a historinha

por Lula Rodrigues

Preparem o fôlego. Lápis e papel nas mãos ? Vamos lá, saber tim tim por tim tim, toda a história do terno executivo moderno, traje oficial de estadistas e homens de negócios ocidentais, que teve como berço esplêndido, a Versailles de Luis XIV, no século XVII. O ambiente era luxuoso e, não menos formal do que as salas de reunião de presidentes de grarndes multinacionais.

Atenção: tem historiadores que creditam o parto da roupa em 3 peças, á Charles II, da Inglaterra. Na boa, dizem que ele copiava o Luis, então ... façam suas apostas.

As normas de etiqueta do rei, levariam à loucura os responsáveis de relações públicas de hoje.Na foto abaixo, um verdaderio exemplo de um ancestral do terno moderno. Todas essas histórias - com h - estão contadas no meu livro o Almanque da Moda Masculina, que tem como tempo histórico y histérico, o período que vai do século XVII ao XXI. Vamos lá ?


Foi lá, na morada real, em Versailles, onde habitavam cerca de 10 mil nobres ( 5 mil fazendo tudo e outros 5 mil de frosô), que os alfaiates do Rei Sol – os melhores da Europa - tiveram a idéia de fazer a roupa básica do soberano, composta de casaca, colete e culotes, tudo no mesmo tecido. Três peças, daí terno, como já venho falando neste singelo blog. Como diz uma amiga da web, simples assim.


Antes disso acontecer, de surgir o "justaucorps", uma espéice de casaca, havia um foco na parte de baixo, um saiote amplo, uma espécie de saia calça que era chamado de "rhingrave" – a útlima moda. De origem alemã, ornamentada com fitas exageradas, foi introduzido na corte de Luis XIV, por volta de 1650.

O da foto acima, que é um quadro de Gerard Ter Borch de 1673, mostra um modelo de rhingrave do norte da Europa. Nos Países Baixos, protestantes, era de bon ton o uso da cor preta, sem fitas e outros badulaques coloridos que os franceses amavam. O gibão - chamado de pourpoint, deixava aparecer a camisa que fazia parte das roupas de baixo. O chapéu cônico dava ao homem uma cara de garrafa de boliche. Isto existe ?? Aos poucos o gibão foi substituído pela casaque e depois pelo justaucoprs - a tal casaca da qual falei.

O dito "justaucorps"- o da foto acima data de 1668 e estava na expoisção "L´Homme paré" que rolou entre 2005/06, no Musée de la Mode et du Textile, logo ali, na Rue de Rivoli, em Paris, é claro. Este era o tataravô do paletó do terno de hoje.

Ia até a altura dos joelhos, ficando mais ampla e abrindo na altura dos quadris, com pregas e fendas nas costas para facilitar os movimentos. Era usada abotoada na frente com muitos botões abaixo da cintura. As mangas eram longas e arrematadas por enormes punhos adornados como preciosos botões que dependendo do dono poderia ser de ouro, prata ou esmalte, delicadamente desenhados.

Na segunda metade do século XVIII, surgiu o "habit à la française", o verdaderio protótipo do terno moderno - um trio (casaca/colete/culote+ paletó,calça/cotete) cuja casaca era um pouco mais curta do que o "justaucoprs", com mangas mais estreitas, punhos mais discretos e uma gola para cima. O melhor exemplo é o da primeira foto, lá no começo do texto.

Era confeccionado em tafetás ou veludos com padrões e desenhos como listras. Bordados preciosos davam acabamentos nas extremidades arredomndadas nas abas dos bolsos, nas golas e lapelas. Era usual os botões serem recobertos com tecidos bordados. Detalhe importante: o habit era usado sempre aberto para que o colete em tecido rico fosse exibido.

Os coletes eram rigorosamente abotoados mas os últimos botões nunca estavam fechados (vejam bem na foto acima), quando o traje era usado por um homem verdadeiramente elegante. Diz a lenda, que tal regra de bem vestir veio da observação dos cortesãos de Versailles, pois Luis XIV era meio "barrigudinho", digamos- e nunca deixava seus lacaios abotoarem os últimos botões de seus coletes.

Verdade ou não, um homem elegante de hoje – seja ele nobre ou plebeu - nunca abotoa os dois últimos botões de seus coletes. Uma outra vertente aposta no fato de que a regra de não abotoar surgiu do fato de que os últimos botões de um justaucorps e seu colete, não tinham função e, por isso, nunca eram abotoados.

Façam suas apostas. Já no século XX, dizem que o Eduardo VII, filha da rainha Vitoria, nnuca abotoava o terceiro botão de seu paletó de 3, pois era um comilão e barrigudo, logo, sentia-se mais a vontade desabotoado. Façam suas apostas.

No século XVIII, o "habit complet à la française" vai se modificando e simplificando. Ta vendo como demorou para a moda masculina entrar na onda minimalista dos anos 90 e que agora volta ?

Pois é. Depois veio a Revolução Francesa, a aristocracia perdeu a cabeça e a burguesia ganhou o poder. A roupa dos "sans culottes" cantou a pedra de um novo terno, mas os calções (culotes) ainda duraram um tempo. Com o prenúncio da Revolução Industrial, a moda inglesa vai aos poucos tomando o lugar da francesa. Surge o redingote – riding coat – e, por volta de 1830, já no século XIX, os culotes saem da moda susbtituídos pelas calças justas inspiradas nas de equitação, dos uniformes ingleses.

Este foi o visual difundido pelo primeiro dândi de plantão, o George Beau Brummell, ele mesmo, o feioso na foto acima. Junto com as calças vieram os paletós mais estruturados e surgiram as bisavós das gravatas. Nesta época, os homens elegantes usavam corsets e ombros estruturados por ombreiras de deixar os power dress dos anos 80, de queixos caídos.

Com o boom da Revolução Industrial inglesa, o homem urbano (foto acima) vai ficando cada vez mais discreto pois seu poder era exibido pelas suas mulheres ou amantes que usavam jóias suntuosas e roupas idem pois foi nessa época, no final do século XIX que surgiu a alta-costura, pelas mãos de um inglês, o Charles Frederick Worth, estabelecido onde ? Em Paris, é claro.

O resto da historinha do terno moderno, todo mundo já sabe.Na virada do século XIX para o XX, o "morning suit" ou fraque, deu lugar ao"lounge suit" - foto acima - que acabou virando a roupa do burguês, no novo homem rico, do homem de negócios que estreiava no século, onde se tentou em vão, de todas as formas, mudar a silhueta do uniforme de trabalho do homem urbano. Não é quase a cara dos jaquetões do Sarney ?

As três peças inseparáveis: paletó, colete e calça no mesmo tecido reinaram no guarda-roupa por um bom tempo no século XX. Ganhou versão sem colete e foi batizada de "costume" que mplacou pelos anos 90 e, no começo dos anos 2000, o "three piece suit" – o terno – voltou às vitrines pelas mãos de Stefano Pilatis (foto acima) para a Saint Laurent. Miuccia Prada também aposta no visual mas na boa, aqui pelo pa-tro-pi vai ser difícil voltar a colar, pois esquenta muito. Como dizem por aí: "é ruim, hein".

A moda masculina, desde suas origens é sobretudo prática. O terno moderno é o traje mais refratário às mudanças estilísticas. Quem encontrar a fórmula e a forma, certamente entrará para o hall of fame. Deixa estar que dona Miuccia (na foto acima os ternos Prada do inverno 2005/2006. Repare nas calças com punhos na bainha) e o Raf Simons têm tendado mas até agora ... não rolou.

Por seu lado, o belga Raf Simmons que não é bobo nem nada, continua pesquisando novas silhuetas para o terno executivo contemporâneo, como o modelo acima, lançado no final de junho, em Milão, para o verão gringo de 2008.



Fonte: O Globo

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